quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A Revolta das Barcas: Conheça a História


A Revolta das Barcas foi um levante popular, ocorrido em 22 de Maio de 1959 contra o serviço hidroviário na cidade de Niterói, estado do Rio de Janeiro. A revolta, além de 6 mortos e 118 feridos, resultou na depredação e incêndio tanto do patrimônio das barcas quanto da residência da família de empresários que administravam o serviço (o Grupo Carreteiro), e terminou com intervenção federal e estatização das barcas.

 

À época, bem antes da existência da Ponte Rio-Niterói, o único serviço de transporte entre Niterói (então capital do estado) e do Rio (então capital do Brasil) eram as barcas, que levavam aproximadamente 100 mil passageiros por dia (quase metade da população niteroiense de então).

O Grupo Carreteiro, que controlava o serviço, solicitava constantemente apoio financeiro do governo para cobrir os gastos, alegando prejuízo. Porém, o governo negava maiores subsídios sob a acusação do Grupo prestar falsas informações sobre seus gastos, com fortes suspeitas de que a empresa gastava menos da metade do que exigia - suspeitas reforçadas pelas aquisições de fazendas e outros tipos de propriedades pela família Carreteiro, fatos notados pela população.

Somado a isso, as mobilizações sindicais no Brasil que incentivavam trabalhadores e trabalhadoras a se organizar eram crescentes, entre eles o Sindicato dos Marítimos e Operários Navais, que com freqüência paralisavam o trabalho - paralisações que eram usadas pelo Grupo Carreteiro como justificativa para novos aumentos tarifários

A greve dos marítimos
Na noite do dia 21 de maio de 1959 o sindicato entrou em greve, de surpresa, mais uma vez, reivindicando melhores condições de trabalho e organização para os cerca de 4 mil funcionários da empresa.

Com a greve, as Forças Armadas foram encarregadas de administrar provisoriamente as viagens entre Niterói e o Rio, desde a condução até a organização das filas. Foram utilizados duas embarcações especiais para tal, denominadas "avisos", que porém tinham capacidade reduzida.

A revolta
Com o serviço reduzido e logicamente sem dar vazão à demanda, a população começou a se aglomerar na Praça Araribóia, e o desconforto e o atraso foram aumentando a tensão local. Para piorar, os fuzileiros navais que tentavam "organizar" a fila (então um grande aglomerado) começaram a agir com truculência, aumentando o descontentamento e a agitação.
Quando um dos militares resolveu dar coronhadas nos passageiros, uma pedra foi lançada contra uma vidraça das barcas, e a resposta dos fuzileiros foi uma rajada de tiros para o alto, o estopim da fúria popular.
Iniciou-se um quebra-quebra pela estação das barcas, que foi incendiada e teve a frota destruída. Os móveis da estação e pedaços das embarcações foram arremessados na rua e incendiados. A revolta seguiu, com a população em marcha para a Rua São João, onde ficava o escritório da empresa, igualmente invadido, destruído, com papéis e moveis sendo arremessados da janela e ateados em chamas.

Por fim, uma marcha em direção à residência dos Carreteiro no bairro Fonseca, a três quilômetros do foco da revolta. A casa foi incendiada, os pertences destruídos, e os móveis caros arremessados do telhado. No fim, encontrou-se escrito em uma parede: "aqui jaz as fortunas do Grupo Carreteiro, acumuladas com o sacrifício do povo."
No dia seguinte a situação já estava sob controle, e o governo brasileiro assumiu o controle das barcas, estatizada.
A revolta, o vandalismo e a luta entre populares e militares resultou em 6 mortos e 118 feridos. Alguns periódicos compararam o episódio chamando Niterói de "uma pequena Bastilha".


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