segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Review da Primeira Temporada de “American Horror Story”.


American Horror Story pode até não ter sido a melhor estréia do ano, mas com certeza foi a mais comentada. 

 Leves SPOILERS para que ainda não viu a primeira temporada até seu final.


                Partindo de um excelente material promocional e do rebuliço da volta de Ryan Murphy ao canal FX, American Horror Story estreou na TV americana no dia 5 de outubro desse ano. Ryan Murphy fez três excelentes temporadas de Nip/Tuck até a coisa toda degringolar e virar o objeto simplório de choque ao espectador que a série veio a se tornar em sua metade final. Depois (na verdade, durante) de Nip/Tuck, o Showrunner engatou a máquina de fazer dinheiro e divisora de opiniões, Glee. A estranheza sentida pelo espectador ao constatar a diferença de temática é inevitável. Qual seria o verdadeiro Ryan Murphy, o que chocou a todos em Nip/Tuck ou o texto ágil e jovial de Glee? Glee fez Ryan Murphy mudar, ficar mais sensível? American Horror Story responde essas perguntas. Murphy continua o mesmo doente pervertido sexual que sempre conhecemos (ufa!). Portanto, a expectativa com o que Ryan Murphy poderia fazer com a sua nova série era maior do que a própria série em si.  

                American Horror Story começa com uma família tentando reconstruir a vida, se mudando para uma casa em um bairro tranquilo, casa tal que tem um passado violento e misterioso. Logo, não demoram a aparecer os “fantasminhas” (camaradas ou não) que estão condenados a vagar eternamente por aquela residência. Plot básico. Filme já visto antes, inúmeras vezes. E é mergulhado nessa fonte de clichês de filmes do gênero que American Horror Story estabelece e constrói sua mitologia.    

                O grande mérito da série é justamente tirar do clichê algo valioso e original. Algumas pessoas caem no facilitismo de justificar a sua opinião sobre a série baseado na presença desses clichês, mas a série mostrou em seus 12 episódios, para quem quisessem ver, que os clichês, sim, existem, mas podem ser contornados com uma trama que pende para o original em certo ponto de sua estrutura. AHS conseguiu se desvencilhar de qualquer rótulo proposto pela nossa pré-concepção e andar com suas próprias pernas a partir de um momento, o que é extremamente bom e valioso. 

                Os personagens na série são bem construídos e a parte interessante fica exatamente para os personagens que já estão mortos. Mortos que são diferentes de qualquer série ou filme já visto. Os mortos são físicos, eles andam, tocam nas pessoas vivas e também fazem sexo (ou com vivos ou com seus próprios semelhantes, sem discriminação).

                Podemos ver a série como um grande fetiche pervertido e sexual de Ryan Murphy. O sexo é o grande agente do caos na trama. O sexo está presente em toda a série, ora como um ato motivador e catalisador da mudança da família Harmon para a casa, ora pela constante tensão entre a empregada sedutora e o chefe da família, ora pelo estupro de Vivien pelo Rubber Man, etc. O próprio Rubber Man é o espelho de toda essa tensão sexual eminente na casa. Rubber Man não tem rosto, seu corpo é escondido e não passa de uma fantasia sexual onde o que importa não é a aparência e sim o objeto como único e puro desejo de se saciar sexualmente. 

                Em AHS, o sexo pune e nunca é tratado como um ato redentor ou amoroso, pelo contrário, o sexo é banalizado ou culposo. O sexo é culpado por muitas coisas na casa, como uma reação em cadeia que causa sempre mais dor, sofrimento e a conseqüência inevitável de que há algo muito errado no ato. O sexo é culpado por Constance ter seus filhos com síndrome de down, é culpado pelo fim do casamento dos Harmons, pelo suicídio da família de Larry, pela morte de Moira e do casal de gays e, como a série mostra mais adiante, o sexo entre a Vivien e o Rubber Man também pode ser culpado por desencadear o apocalipse. AHS é bizarra, e isso é bom.

                A série conseguiu amarrar uma rica e complexa mitologia em poucos episódios. Todos os episódios eram importantes para trama sem haver qualquer tipo de enrolação. É fantástico como a casa era um personagem e como os episódios começavam com algo do passado que buscava elucidar um mistério envolvido.

                American Horror Story foi um sucesso, sendo a série mais assistida do canal, o que já lhe rendeu uma garantia de segunda temporada. A série mostra-se diferente também em sua estrutura, fazendo uma segunda temporada que seguirá um rumo diferente dessa primeira. Sem mais família Harmon, sem mais a mesma casa e os mortos que estão nela. Temporada dois, história nova, rumo novo, que também se contentará em sua única temporada, sem abrir espaços para uma continuação da mesma. Isso é bom. Em cada ano conhecemos uma nova história de horror americana. 


Um promo da Série:


A abertura da Série:

               
                     
               
       

Um comentário:

  1. Amei sua critica!! A cada texto que você produz se supera.. Fiquei com uma vontade enorme de ver a série “American Horror Stoy” .. Parabéns de verdade, Tiago!! É um texto de ótima qualidade.. Espero que você continue assim, se superando a cada texto que posta no site..

    ResponderExcluir