Leves SPOILERS para que ainda não viu a primeira temporada até seu final.
Partindo
de um excelente material promocional e do rebuliço da volta de Ryan Murphy ao
canal FX, American Horror Story estreou na TV americana no dia 5 de outubro
desse ano. Ryan Murphy fez três excelentes temporadas de Nip/Tuck até a coisa
toda degringolar e virar o objeto simplório de choque ao espectador que a série
veio a se tornar em sua metade final. Depois (na verdade, durante) de Nip/Tuck,
o Showrunner engatou a máquina de fazer dinheiro e divisora de opiniões, Glee.
A estranheza sentida pelo espectador ao constatar a diferença de temática é
inevitável. Qual seria o verdadeiro Ryan Murphy, o que chocou a todos em
Nip/Tuck ou o texto ágil e jovial de Glee? Glee fez Ryan Murphy mudar, ficar
mais sensível? American Horror Story responde essas perguntas. Murphy
continua o mesmo doente pervertido sexual que sempre conhecemos (ufa!). Portanto,
a expectativa com o que Ryan Murphy poderia fazer com a sua nova série era
maior do que a própria série em si.
American
Horror Story começa com uma família tentando reconstruir a vida, se mudando
para uma casa em um bairro tranquilo, casa tal que tem um passado violento e
misterioso. Logo, não demoram a aparecer os “fantasminhas” (camaradas ou não)
que estão condenados a vagar eternamente por aquela residência. Plot básico.
Filme já visto antes, inúmeras vezes. E é mergulhado nessa fonte de clichês de
filmes do gênero que American Horror Story estabelece e constrói sua mitologia.
O
grande mérito da série é justamente tirar do clichê algo valioso e original. Algumas
pessoas caem no facilitismo de justificar a sua opinião sobre a série baseado
na presença desses clichês, mas a série mostrou em seus 12 episódios, para quem
quisessem ver, que os clichês, sim, existem, mas podem ser contornados com uma
trama que pende para o original em certo ponto de sua estrutura. AHS conseguiu
se desvencilhar de qualquer rótulo proposto pela nossa pré-concepção e andar
com suas próprias pernas a partir de um momento, o que é extremamente bom e
valioso.
Os
personagens na série são bem construídos e a parte interessante fica exatamente
para os personagens que já estão mortos. Mortos que são diferentes de qualquer
série ou filme já visto. Os mortos são físicos, eles andam, tocam nas pessoas
vivas e também fazem sexo (ou com vivos ou com seus próprios semelhantes, sem
discriminação).
Podemos
ver a série como um grande fetiche pervertido e sexual de Ryan Murphy. O sexo é
o grande agente do caos na trama. O sexo está presente em toda a série, ora
como um ato motivador e catalisador da mudança da família Harmon para a casa,
ora pela constante tensão entre a empregada sedutora e o chefe da família, ora
pelo estupro de Vivien pelo Rubber Man, etc. O próprio Rubber Man é o espelho
de toda essa tensão sexual eminente na casa. Rubber Man não tem rosto, seu
corpo é escondido e não passa de uma fantasia sexual onde o que importa não é a
aparência e sim o objeto como único e puro desejo de se saciar sexualmente.
Em AHS, o
sexo pune e nunca é tratado como um ato redentor ou amoroso, pelo
contrário, o sexo é banalizado ou culposo. O sexo é culpado por muitas coisas
na casa, como uma reação em cadeia que causa sempre mais dor, sofrimento e a conseqüência
inevitável de que há algo muito errado no ato. O sexo é culpado por Constance
ter seus filhos com síndrome de down, é culpado pelo fim do casamento dos
Harmons, pelo suicídio da família de Larry, pela morte de Moira e do casal de
gays e, como a série mostra mais adiante, o sexo entre a Vivien e o Rubber Man
também pode ser culpado por desencadear o apocalipse. AHS é bizarra, e isso é bom.
A
série conseguiu amarrar uma rica e complexa mitologia em poucos episódios. Todos
os episódios eram importantes para trama sem haver qualquer tipo de enrolação. É
fantástico como a casa era um personagem e como os episódios começavam com algo
do passado que buscava elucidar um mistério envolvido.
American
Horror Story foi um sucesso, sendo a série mais assistida do canal, o que já lhe
rendeu uma garantia de segunda temporada. A série mostra-se diferente também em
sua estrutura, fazendo uma segunda temporada que seguirá um rumo diferente
dessa primeira. Sem mais família Harmon, sem mais a mesma casa e os mortos que
estão nela. Temporada dois, história nova, rumo novo, que também se contentará
em sua única temporada, sem abrir espaços para uma continuação da mesma. Isso é
bom. Em cada ano conhecemos uma nova história de horror americana.
Um promo da Série:
A abertura da Série:
Amei sua critica!! A cada texto que você produz se supera.. Fiquei com uma vontade enorme de ver a série “American Horror Stoy” .. Parabéns de verdade, Tiago!! É um texto de ótima qualidade.. Espero que você continue assim, se superando a cada texto que posta no site..
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